“De mim não posso fugir, paciência!”
Parece-me que existe na condição humana uma necessidade de desejo para nos querermos alienar de nós próprios, da nossa existência.
Como que uma vontade para fuga do próprio eu (que pode não ser consciente). Talvez seja esta “secreta” aspiração que causa em nós o desejo “secreto” de nos querermos ver como um estranho para que com essa distância sejamos apenas um objecto. Desse objecto, fazemos o que queremos: inventa-se uma história, uma personagem, um comportamento. Uma composição ficcionada que provém dessa ruminação obcessiva e contínua de estilhaçar o próprio eu. É uma simulação autoral que parte de um pressuposto de ficção onde se suspendem a realidade e as próprias convenções sociais do eu. Por essa suspensão temporária da descrença impõe-se uma credibilidade forçada que se revela no domínio da ilusão e da dúvida.
É neste universo que se poderá enquandrar o trabalho de Sophie Calle e, em particular, a sua colaboração com o escritor Paul Auster (da qual resulta a exposição intitulada Double Game). A artista envolve outras pessoas no seu processo de trabalho, – agentes, como diria Gamboni – provocadores da alteridade, do acaso e de um certo descontrolo assumido como parte dos projectos.
O foco da minha reflexão teórica será portanto o trabalho de Sophie Calle e, em particular, a sua metodologia processual. Em baixo, coloco a que é, para já, a bibliografia da minha pesquisa.
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Calle, Sophie et.al. – Double Game. 1ª ed. Londres: Violette, [1998]. ISBN 1-900828-06-5
Carrol, Lewis – Alice do outro lado do espelho. 1ª ed. Lisboa: Relógio D’Água Editores, [2007]. ISBN 978-972-708-986-4
Carvalho, Tânia – De mim não posso fugir, paciência! [Performance] Lisboa: Teatro da Politécnica, Junho 2008
Marchand, Bruno, et. al – Jorge Molder – Pinocchio. 1ª ed. Lisboa: Culturgest [2009]. ISBN 978-972-769-074-9
Medeiros, Margarida – Fotografia e Narcisismo: o auto-retrato contemporâneo. 1ª ed. Lisboa: Assírio & Alvim, [2000]. ISBN 927-37-0606-7