Glitch_apresentação
G L I T C H A R T
Erro / Acidente / Acaso
D e s e n h o
ex: “frottage” – ACIDENTE
P i n t u r a
ex: surgimento do “dripping” – ACIDENTE
J.Pollock – Number 8 1949 (detalhe)
M ú s i c a
ex: John Cage (1912-1992)
William’s Mix (pauta)_1952
F o t o g r a f i a
ex: A. Strindberg – celestografias – ACASO
Sem título 1894 12×8cm
Contextualização
“Literally, a glitch is a spike or change in voltage in an electrical current.”
- John Glenn, em 1962, durante o Programa Espacial Norte-Americano (referindo-se à explicação de alguns problemas de ordem técnica que experimentaram)
Da mesma forma que se assumiu e explorou o erro, o acidente e o acaso nas mais variadas áreas artísticas, o mesmo aconteceu no campo digital, surgindo assim a chamada “Glich Art”.
Contudo, comecemos por tentar perceber o que é um “Glitch puro”.
O termo glitch é usado quando ocorre uma falha num sistema electrónico. Ou seja, é o resultado, inesperado, de um mau funcionamento, de uma avaria ou de um qualquer erro.
Este termo pode ser aplicado tanto à área da informática como à área electrónica e cibernética, ou ainda a sistemas de informação. Estas falhas, de ordem técnica, podem acontecer nos mais variados tipos de suportes/aparelhos, como: software, hardware, máquinas fotográficas e de vídeo, videojogos, aparelhos de áudio e de telecomunicações.
Um exemplo do que é um glitch puro foi o que aconteceu durante a apresentação oficial do “Microsoft Windows 98”, durante a qual houve um erro inesperado, e que viria a ficar conhecido como “a tela azul do Windows 98”.
website: http://www.youtube.com/watch?v=2eZKLFNeVD4
Eventuais falhas que podem originar um Glitch:
- um CD/DVD arranhado ou danificado;
- um fluxo de vídeo na Internet ou televisão digital;
- interferências nas telecomunicações;
- um acidente de software devido à insuficiência de memória;
- uma câmara digital ou outro dispositivo com defeito;
- pico de tensão que provoca danos nos sistemas informáticos;
- um erro de comunicação, quando se transferem dados de um ambiente para outro ou de um programa para outro. ex: “Glitch Pad”.
O Glitch Pad:
Na prática, consiste em abrir um qualquer ficheiro de imagem não compactado (extensão “bmp” ou “tiff”) no “Microsoft Word Pad” e clicar em “salvar”. Quando se abre novamente o arquivo como uma imagem, o resultado é um glitch da imagem original (deturpação da imagem original).
Estes tipos de falhas ocorrem nos computadores devido a ”bugs” de software ou falhas de hardware, originando, não raras, vezes padrões ilegíveis que aparecem nos monitores, como se pode constatar no exemplo seguinte:
imagem original imagem glitch
Exemplos de alguns glitches mais comuns:
O Glitch como Arte
Numa altura em que cada vez mais a sociedade na qual estamos inseridos, tenta evitar e esconder o mais possível os seus próprios erros, curiosamente, ou talvez não, alguns artistas plásticos apropriam-se e exploram este mesmo “erro/falha”, transformando-o na sua bandeira, assumindo-o como o ponto fulcral do seu trabalho e investigação – o próprio erro torna-se, desta forma, potencialmente apelativo quer pelas suas características plásticas como conceituais.
Principais conceitos formais associados:
- Fragmentação / Repetição / Linearidade / Sobreposição / Arrastamento / Deterioração / Grelha.
mas também, conceptualmente, a APROPRIAÇÃO e DESCONTEXTUALIZAÇÃO.
Alguns Artistas Glitch:
- Tony (Ant) Scott
- Jodi
- Ryoji Ikeda
- Yasunao Tone
- Pipilotti Rist
- Takeshi Murata
Tony (Ant) Scott (Ing.)
Behind the word Glitch is now also emerging a digital art movement that explores imperfection by producing or saving unwanted images. Made with a digital camera, a printer or a scanner and based on an accident or a malfunction in a program causing a computer crash, a glitch can be defined saying that it is the on-screen output of something not working properly.
According to Tony (Ant) Scott making glitches do not seem to be the end of the world and these are the type that intrigue him. He worked out a 4 step pattern that will take you to glitch notoriety. The extended version can be found here: www.beflix.com/tech.html, we can summarize it as follows:
- Wait for something to go wrong, or force something to go wrong.
- Capture it.
- Use digital imaging software to crop the image to select the best of it.
- Upload your glitch on the internet.
Maybe it is the aesthetics or the experience of capturing pure glitches that make them seem so appealing. Like chasing rare butterflies and pinning them down once they are captured. There also seems to be a certain amount of fetish involved, regarding that there is such an obsession around the Glitch process and discovery of it, and making of it; glitch artists use or provoke digital “failure” to enlarge the artistic possibilities of these momentary accidents.
Série “CHROMA”
(alguns exemplos – fotografias):
“These images are based on some code I wrote on my Dragon 32 home computer in 1984, when I was a teenager. The digital information in the computer’s electronic memory, or RAM, is displayed on screen as black-and-white patterns. Then, these images have been slightly mistuned via a TV tuner, which creates the coloured fringes, called “chroma crawl”. I have long been fascinated by images which are simultaneously black-and-white, yet highly colourful at the same time.” – Tony (Ant) Scott
“It’s the image itself that interests me more than the process.”
trabalhos diversos (fotografias):
Joan Heemskerk / Dirk Paesmans / (Projecto “Jodi”)
Outros trabalhos que escolhemos para esta apresentação são desenvolvidos por dois artistas – Joan Heemskerk (holandês, nascido em 1968) e Dirk Paesmans (belga, nascido em 1965), os quais formam o colectivo “Jodi”.
Ambos têm formação em fotografia e vídeo-arte, sendo que desde meados da década de 90 começaram a trabalhar em arte digital, criando projectos originais para a Internet.
As suas estratégias de intervenção passam pela utilização de vários suportes, sendo os principais, o cd-rom e a Internet sendo que aqui os projectos apresentados tiram partido da linguagem específica da web.
Para quem não conhece o conceito dos seus trabalhos eles são totalmente incompreendidos. Por exemplo, um dos trabalhos que desenvolveram em 1995 parece, à primeira vista, ser um texto sem sentido ou um ficheiro corrompido, mas quem vir o código-fonte HTML compreende que há nele toda uma informação que revela diagramas detalhados de bombas de hidrogénio e de urânio.
website: wwwwwwwww.jodi.org
Um dos mais conhecidos projectos desta dupla é o “Error 404”. O “Error 404” é uma das mensagens de erro mais comuns na internet e é apresentado sempre que existem dificuldades na apresentação de uma webpage. Ou porque o endereço já não existe, foi alterado ou mal escrito ou ainda porque está fora de serviço ou, então, porque qualquer outro erro de navegação foi cometido. Contudo, neste caso o importante é a possibilidade de tirar partido deste tipo de anomalias que nasceram como informação e foram, posteriormente, usadas para um projecto artístico, onde existe a intenção clara de produzir obra a partir da manipulação (visual) deste erro de navegação.
website: http://404.jodi.org/
Tanto neste trabalho como no anterior existem, simultaneamente, um factor de surpresa e de decepção, quando acedemos a estas webpages, pois deparamo-nos com uma série de linhas de programação informática que não era esperado ou suposto encontrarmos.
Deparamo-nos, assim, com uma inversão do sentido natural das coisas na aparência destas páginas. Ao contrário da situação “habitual” em que o que é mostrado é, normalmente, o resultado da estrutura oculta da página, isto é, a sua programação. O que aqui fica oculto é precisamente o resultado visual pretendido, apenas acessível àqueles que conseguem chegar a níveis de manuseamento da navegação que lhes permita descobrir a componente onde habitualmente se esconde a programação.
Outro factor importante é a questão do anonimato subjacente a este género de trabalhos, pois quando os vemos não temos a possibilidade, pelo menos imediata, de saber quem está por detrás da construção destes sites. Quando perguntaram a Joan e a Dirk sobre o anonimato das suas obras eles responderam:
“Nós apresentamos ecrãs e coisas que estão a acontecer nesses ecrãs.
Evitamos explicações. Olhem para qualquer exposição: as pessoas procuram as placas de informação ao lado dos trabalhos artísticos, antes de olharem para os trabalhos. Querem saber quem fez a peça, antes de terem uma opinião sobre esta. É o que tentamos evitar.”
Aproximação visual, processual e conceptual a outras práticas artísticas
Pintura (visual)
- FRAGMENTAÇÃO
Boccioni – Dinamismo da Cabeça de Um Homem 1914 óleo
- REPETIÇÃO
Boccioni – Those Who Stay 1911 óleo
- DETERIORAÇÃO
P.Cezanne – Le Jardin a Les Lauves 1906 óleo
- PIXELIZAÇÃO
P.Cezanne – Le Mont Sainte-Victoire vu des Lauves 1906 óleo
- SOBREPOSIÇÃO
G. Braque – Bottle, Newspaper, Pipe and Glass 1913 48×64cm téc.mista
- FRAGMENTAÇÃO
G. Braque – Harbor in Normandy 1909 óleo
- GRELHA
P.Mondrian – Composition A 1920 91,5×92cm óleo
- PIXELIZAÇÃO
P.Mondrian – Broadway Boogie Woogie 1943 127×127cm oleo
- CONTAMINAÇÃO
Gerhard Richter (implicação com a Fotografia)
- ARRASTAMENTO
Gerhard Richter – Green, Blue, Red óleo
- PIXELIZAÇÃO
Gerhard Richter – 4900 Colours 2007 680×680cm oleo
Bauhaus (visual)
- LINEARIDADE, GRELHA
Marcel Breuer
Cinema (processual)
Stan Brakhage (1933-2003)
- acção/manipulação directa sobre o próprio médium
Ready-made (conceptual)
O “Erro” na Glitch Art associado aos conceitos de:
• Apropriação
• Descontextualização
Apropriação da estética Glitch pela cultura popular
Actualmente o campo desta prática artística tem-se alargado bastante, de forma a ser acessível neste momento a qualquer utilizador através de ferramentas disponíveis na web com programas específicos, os quais ajudam a criar este tipo de imagens ou de sons, como o “Jitter”, o “C74”, o “Processing 1.0” e o “Glitch Sequencer”, entre outros.
website: http://www.glitch-sequencer.com/
É ainda importante notar que existe uma distinção entre uma obra que está realmente corrompida e um trabalho que alcança resultados similares, adoptando algumas das características visuais ou sonoras típicas do glitch.
Esta estética tem vindo já a aparecer em varias áreas da cultura popular ou áreas comercias como por exemplo na moda:
- moda (padrões)
As imagens seguintes foram retiradas de um dos muitos temas de um gabinete de tendências francês chamado Nelly Rodi. O tema chama-se “Games” e todo ele é alusivo, quer em termos de formas, de cores e de motivos a esta estética glitch:
Outras áreas também mais populares onde actualmente se pode também constatar a exploração da estética glitch são, por exemplo:
- publicidade (televisiva);
- cinema (ex: “Cloverfield”);
- vídeo clips musicais (ex: Linkin Park);
- comédia (ex: Umbilical Brothers).
Isabel Guimarães
João Sineiro
Luís Pereira
Seminário de Pintura – FBAUP – Janeiro de 2010