Sobre

By Miguel Leal

Maquinismos, automatismos e indeterminismos processuais

Há uma vontade de ser como uma máquina que parece atravessar a arte do século XX, do automatismo surrealista à Factory de Andy Warhol, do ready-made à serialidade da arte conceptual, vontade essa que não aponta para um domínio mecanicista dos processos mas que esconde antes um desejo secreto de perder compulsivamente o controlo. Como sabemos a arte descobriu desde muito cedo a força da repetição e dos automatismos enquanto formas de revelação maquínica do indeterminado e da diferença operativa do acaso. Ao contrário do que por vezes nos querem fazer crer, existirá pois uma associação entre o automatismo e a indeterminação, entre as máquinas e o acaso. Na arte, o interesse pelos comportamentos automáticos e seriais das máquinas — como também o de muitos artistas que se comportam, nesse sentido, maquinalmente — esconde uma atracção pelo fluir caótico e imprevisível dos acontecimentos que imprimem uma irreversível estranheza às coisas do mundo.
Estudar-se-á neste seminário, do ponto de vista da prática artística, justamente esse confronto entre o trabalho metódico e automático e a necessidade que as máquinas revelam de guardar uma certa margem de indeterminação, na sua tentativa de escapar à fatalidade funcional que sempre as ameaça. Ao longo das sessões será apresentada uma perspectiva histórica sobre o problema e analisados vários casos de estudo. A participação dos estudantes será fundamental para a concretização deste último ponto, na medida em que lhes será pedido que orientem os seus trabalhos de investigação para a análise de casos de estudo relacionados com a temática do seminário.

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