A Premissa da Arquitectura Recombinante: Um

Benjamin Bratton*







b #06
Ago.03

Este ensaio apareceu inicialmente em inglês na lista de discussão Nettime [http://www.nettime.org].
A tradução que aqui se publica é da responsabilidade de Duarte Soares Lema e Sofia Pereira da Silva e encontra-se também disponível em http://arch.virose.pt.



A arquitectura recombinante examina o profundo impacto cultural da biotecnologia, incluindo a genética, a genómica e engenharia transgénica, no imaginário da arquitectura.
Este breve ensaio cartografa várias posturas éticas e teóricas acerca da questão obscura do design recombinante e procura preparar o terreno para uma arquitectura material, baseada nas complexas tecnologias do ser, do espaço e da matéria.
A arquitectura recombinante desencadeia relações alegóricas entre corpo e estrutura, incorporando corpos arquitectónicos e biológicos em interiores e exteriores reversíveis e contínuos, incluindo cyborgs e corpos transgénicos, tessituras celulares generativas, híbridos corpos-arquitectura, habitats replicantes e arquitecturas e materiais de construção geneticamente manipulados.

A arquitectura recombinante é múltipla e este ensaio considera-a como inter-relacionável com três temas: 1) a concepção de formas arquitectónicas à imagem de uma realidade corpórea biomórfica e genética (arquitectura como um índice fisionómico do pós-humano), 2) a formação deliberada de recombinações de formas corpóreas (entidades genómicas na imagem da arquitectura) e 3) a aplicação de biomateriais produzidos na construção de ambientes (arquitectura como resultado do design genómico) dos corpos para os edifícios e vice-versa [I].

Programas /corpos genómicos.
Tecnologias recombinantes (cartografia genómica e terapia genética, nano-biotecnologias, etc.) reconfiguram o nosso corpo como lugar de reprodução, habitação e sensação com características ambulatórias e de devir temporal. Porque estas se coordenam com a arquitectura como escala, abrigo, símbolo e cenário, antecipamos que as tecnologias recombinantes terão impacto na arquitectura de um modo igualmente radical.

Precisamente porque o design genómico e transgénico desestabiliza os próprios corpos com os quais habitamos os nossos mundos partilhados, o que passa a ser crucial não é o corpo per se mas antes as instituições sociais, locais e globais, construídas ao longo dos séculos, sobre conceitos que tomam o corpo como referência natural e estável. Como o meio biológico corporal se fragmenta de uma singularidade universal em assemblagem genética (digital), os mundos que definimos através do corpo, tornam-se igualmente desestabilizados e redeterminados por imaginários recombinantes. Qualquer instituição que se baseia em discursos colectivos, é um lugar potencial para uma revolução recombinante (a família, a casa, o estado-nação, o próprio espaço) e isto conduz-nos em várias direcções contraditórias e por vezes perigosas. O século XXI será povoado por crianças genomicamente auto-conscientes/reflexivas que nascem e crescem em corpos que reconhecem como expressões habitáveis de "código binário"[II]. Estaremos nós a popular os primeiros anos de um século eugénico com uma tenebrosa singularização biotecnológica da humanidade? Estaremos também a participar nos primeiros anos de uma nova sociedade de liberdade biomaterial, uma arquitectura do Eu que permite (e exige) novas práticas que reflectem um novo desígnio e uma nova expressão corporal?

Como alegoria, a viragem genética anima vários projectos de arquitectura contemporânea. Porém, a materialidade táctil e textil, assim como o inconsciente sociocultural em que se baseia qualquer programa", dificilmente permite a avaliação do impacto das tecnologias genéticas. A arquitectura recombinante é o re-questionamento radical dos mais fundamentais pressupostos programáticos acerca dos recursos lógicos do espaço construído. Quando quer a arquitectura quer os corpos que a habitam, são eles mesmos orgânicos e inorgânicos, materialmente vivos e não-vivos, quando a natureza dos dois é artificial e artifactual, as premissas iniciais das interacções no espaço e no tempo, são repensadas.

Arquitectura genética: biomorfologia algorítmica, a concepção de formas arquitectónicas à imagem de uma realidade corpórea biomórfica e genética (arquitectura como um índice fisionómico do pós-humano).
O imaginário genético tem-se insinuado na investigação arquitectónica de várias formas e conduz diversas abordagens experimentais[III]. As incursões na arquitectura genética constituem a centralidade epistémica de um corpo agora genomicamente auto-consciente, como um índice metodológico de investigação estrutural. O corpo genético designa e contém formas animadas múltiplas e incoerentes para serem expandidas arquitectonicamente. Assim, a genética e a genómica são consideradas como princípios figurativos que prolongam e transcendem processos puramente biológicos, tornando-os sistemas biotécnicos mais compreensivos.

Para Karl Chu, phyla orgânica e inorgânica cruzam-se em horizontes-limite mutuamente constituídos de materialidade informativa. Estas territorializações emergem in vivo através da superfície física da Terra como múltiplas avaliações algorítmicas transversais.

O espaço genético é o domínio de mundos possíveis, gerados e mitigados através do tempo pelos phylum maquínicos. Esta é a zona de emissão das radiações da descompressão da realidade, uma explosão super-crítica de algoritmos genéticos latentes, com a capacidade de se libertarem para o espaço genético. Não é um receptáculo passivo, mas um espaço evolutivo activo, dotado de propriedades dinâmicas e conhecimento da paisagem epigenética."[IV]

De acordo com a teoria do Espaço Hiperzóico de Karl Chu, as leis da física que ordenam o jogo entre genótipo, fenótipo [V] e ambiente, estão em desenvolvimento e são condensações de múltiplas modulações explícitas e virtuais de enunciados genético-algorítmicos. Karl Chu chama-lhe a Era Hiperzóica, na qual a informação-como-capital e capital-como-informação se condensam e se descodificam em múltiplas espécies de vida artificial[VI].

Manuel De Landa, agora docente na Architecture and Planning Graduate School da Columbia University, cartografa a intra-evolução promíscua da inteligência mecânica, biológica, linguística e geológica através de inúmeros locais de convergência e intensificação. Dentro da história transversal da incorporação de escalas múltiplas, de Manuel de Landa, a arquitectura passa a ser o lugar para a manifestação de múltiplos vectores evolutivos concorrentes: semióticos, militares, meteorológicos e virais. Esta evolução de formas realiza-se através das inter-relações diferenciais de reprodução genética e ambientes dinâmicos. As acções plurais do design situam-se sobre as duas formas de evolução: fomentando a duração de momentos de vida singular e nos limites das trajectórias de impacto que têm no habitat. A história do meio persiste – é traduzida e miniatorizada - quer na assinatura genética da característica pela qual ela selecciona, quer nos corpos-espécie animados por essas mesmas assinaturas genéticas.

Este movimento inscreve o mundo material inabitado de acordo com parâmetros de uso, trocas, significado e exagero simbólico. A maneira como uma determinada forma vem a ocupar uma dada posição dentro da rede de acção de agentes humanos e inumanos, do microbial ao continental, e a eventual duração das diversas ocupações traduzem o horizonte arquitectónico do código.

Mutação, ruído interior do sinal infogenético, coloca o princípio da variação (inovação) dentro do código bioinfomático que contém sempre a sua própria contradição, a sua própria possibilidade para interacções alternativas ocasionais. Mas qualquer mutação (qualquer inovação) dura apenas o momento em que tem capacidade de mediação, em que pode manter um circuito numa determinada escala ambiental. Para tal, realiza uma transfiguração de valor entre forma-limite corporal e horizonte-limite ambiental, uma reterritorialização das arquitecturas maquínicas da habitabilidade. Isto tem lugar em múltiplas escalas temporais, desde nano-segundos a milénios, e como uma Geologia da Moral fabrica a condição de espaço durável.

É precisamente na cúspide dessas convergências e divergências que Marcos Novak situa a lógica evolucionária da própria arquitectura. Para Novak, a emergência do digital como espaço soberano constitui uma nova especiação dentro da genealogia da investigação arquitectónica. Longe de ser uma mera ferramenta, a espacialidade digital é um novo corpo, um novo ambiente, uma nova condição das pressões intra- e inter-selectivas, ecto-,exo-,xeno- e alógeno como máquinas-evento arquitectónicas[VII].

Construção e hiper-construção tornam-se fenótipos, uma manifestação de forma, concordante com a pressão condicionante de economias transitórias de espaço-habitação. Uma vez que a arquitectura digital constitui um vector da especificação epistemológica, da arquitectura puramente molecular, os processos alogenéticos podem ser antecipados.
Modulações de formas sistémicas que emergem na savana digital, serão por sua vez enlaçadas nos corpos hospedeiros da arquitectura física. A condição prévia desta hibridização é a diferenciação evolucionária do digital como um eixo discreto de selecção-forma-código, e a sua capacidade para, por esse meio, gerar mutações imprevistas para serem posteriormente recuperadas.

O projecto Embryological House de Greg Lynn, tal como a maioria dos projectos de arquitectura genética, publicamente aceites, reinventa a habitação de acordo com a forma genética como um princípio inicial da animação iterativa;

Pode-se começar com uma forma primitiva (ou seja, de grande simetria), como um ovo, e começar por desenvolver regras para quebrar a simetria. Esta foi a estratégia que eu adoptei na Embryological House. É concebida como uma forma esférica tosca, com várias linkagens e ligações dos componentes, fixando-se limites máximos e mínimos para cada um desses componentes, e então a interacção de todas essas coisas é o que fornece as infindáveis possibilidades de mutação."[VIII]

A dupla pele da Embryological House reage e antecipa-se à luz solar e às variações ambientais de acordo com os dados que recebe, ajustando-se. Como um corpo animal, a casa-corpo modela-se a qualquer superfície, e as aberturas arquitectónicas são orifícios reais: a porta é como um esfíncter - abre e fecha."

Em aspectos fundamentais a Embryological House (e talvez a Arquitectura Genética como um todo, neste momento) permanece demasiado devedora das problemáticas da arquitectura tradicional. Por todos os seus verdadeiros méritos, a Embryological House é um ícone da metáfora genética na arquitectura, e ao ter assinalado formas corporais e morfologias humanas em sistemas edificados, permanece, neste ponto da sua evolução, uma alegoria de processos genéticos. O sistema de habitação assemelha-se ao aparecimento de processos genéticos, o corpo biológico, mas é ele próprio um processo genético? Está por decidir se a Embryological House é ainda arquitectura genética, ou arquitectura acerca da genética.
A história de ficção científica em que termina a Embryological House deixa todos os traços de mutação na arquitectura, mas nós, os habitantes corpóreos, queremos também ser parte da mutação! Apesar de tudo, para a arquitectura recombinante, o esplendor do projecto de Greg Lynn será totalmente alcançado quando a Embryological House a) crescer num prato e/ou b) for capaz de se reproduzir sexualmente[IX].

Pós-corpos, a formação deliberada de recombinações de formas corpóreas (entidades genómicas na imagem da arquitectura).
A arquitectura recombinante é construída a partir destes projectos e pressupõe a sua erudição. Mas nestes casos, em que a arquitectura genética se fundamenta ou recorre à gramática genética no momento de criar arquitectura formal, a arquitectura recombinante olha para o corpo artificialmente projectado (genomicamente, cirurgicamente ou concebido de uma outra forma), como a medida cyborguiana de estrutura e habitante. A tradução do genético em carne, e não apenas em códigos replicantes ou significantes corporais, assenta em precedentes compreensíveis. O corpo é a primeira arquitectura: o habitat que precede a habitação. A arquitectura olha para o corpo pelo seu télos, a sua imagem de singularidade unificada, a sua continuidade histórica. A condição de corporização e o seu material poético de escala, temperatura, solidez e flexibilidade, reprodutibilidade e singularidade, tem fixado a linha do horizonte desde Vitruvio a Virilio.

Mas os corpos retalhados em componentes sub-variáveis e predisposições estatísticas, são agora imaginados como territórios genómicos, como cidades de eventos-ADN. Corpos, corpos carnosos e viscosos, são agora não apenas a primeira arquitectura, são praticamente a primeira arquitectura digital. O ADN é o código binário: é o principio computacional, e imagem do corpo como um campo infomático mutável. Mas o corpo-como-meio-digital, ainda na base do imaginário arquitectónico, é como qualquer outro meio digital disponível para cortar e colar. Uma arquitectura recombinante concebe o design do ambiente construído de acordo com a tecnologia discursiva do genoma, "ADN faz arquitectura". As formas corporais que produz são elas próprias arquitectónicas no mais alto grau. Estas manifestações genómicas são como quaisquer outras naturais ocorrências arquitectónicas, incrivelmente perfeitas e também disponíveis para as modificações que o habitar simbólico e prático faz a partir delas.

Desde Prometeu ao Rabi Loew e desde Victor Frankenstein a Stan Lee, os criadores de heróis-vilões são signatários da complexa condensação do corpo, biologia, tecnologia e mito, que surgem como ícones quase-humanos de sistemas tecnológicos emergentes[X]. Em 1995, o Dr. Joseph Vacanti, cirurgião de Harvard especializado em transplantes, cultivou uma orelha humana sob a pele de um rato. A orelha fabricada foi posteriormente retirada e o rato sobreviveu[XI]. O rato de Vacanti é uma figura genesíaca de uma era de restruturação electiva, na qual corpos são como máquinas e máquinas são como corpos, um mito originário para múltiplas novas práticas de design. Este aterrador ser-objecto transgénico é uma Quimera contemporânea, é parcialmente mágica[XII]. A imagem da Orelha Rato é um ícone da engenharia de tecidos radical, da violência criativa da ciência, e do corpo biológico, agora forma arquitectónica recombinante.

Por razões tecnológicas e éticas, a derradeira realização da auto-fabricação genómica digital, num nível mecânico primário, o corpo ultramoderno é já uma forma altamente recombinante. Isso é patente mesmo numa leitura apressada de qualquer jornal, dos anúncios das inovadoras cirurgias electivas. A extrema modificação do corpo é decisivamente um discurso e uma prática arquitectónica. É uma renovação deliberada desse primeiro habitat (do Eu), e a produção pública de espaço performativo (do Outro singular). Esta prática cria diversas aparências, cada qual constitui qualitativamente diferentes visões arquitectónicas, umas na direcção de um alien radical, outras em direcção de uma singularidade estandardizada, pensamos por vezes que o que aparenta ser um, acaba por se revelar o outro. Desde a moda do piercing até à cirurgia electiva, as economias simbólicas e financeiras das modificações radicais do corpo, são as precursoras de uma potencial era de radical automodificação genómica.

Mas onde tatuagens, piercings ou outras modificações mais radicais como implantes ou outras cirurgias plásticas são interessantes pela sua focalização no re-desenho estrutural na carne, é a/o She-Male (transexual) que decisivamente assinala esta espécie de complexidade Quimérica na qual a arquitectura recombinante sempre gravita. A/o She-Male, é mais do que um refinamento afectivo da forma corporal, ela/e situa a reconfigurabilidade dos elementos estruturais do corpo mais primários e significativos. Para a arquitectura recombinante, a transsexualidade é o elemento-chave. Posiciona a tecno-biologia como uma linguagem estrutural e reflexiva, que pode ser deliberadamente articulada de novas formas. A transsexualidade também complexifica o alibi do funcionalismo que acompanha a pesquisa especulativa dentro das tecnologias recombinantes. As cirurgias não são exactamente um procedimento médico, nem meramente cosmético. Elas são metamorfoses dentro da inovadora liminaridade, e despedaçamentos produtivos dos universalismos categóricos, que determinam arbitrariamente as premissas da arquitectura como corpo, e do corpo como arquitectura[XIII].

O corpo em volta do qual situamos as premissas da arquitectura recombinante é reconfigurável, mas não necessariamente orgânico. O trabalho de Bruno Latour localiza a produção de agentes estruturais dentro e através de actores humanos e não-humanos. Estes circuitos orgânicos-inorgânicos contextualizam mutuamente e activam-se em performances. Estas redes de actores também assinalam os locais das reviravoltas do desejo, desde formas de investimento orgânicas a inorgânicas e de volta aos orgânicos, da incrementada artificialização do corpo sensual até à sensualização do artefacto antropomórfico. Ou seja, correspondendo à estética-performativa plastificada da reconfiguração cirúrgica, o Eu é a erotização da matéria inorgânica.

A arquitectura recombinante redesenha o ambiente construído como e com biomateriais derivados artificiais. Isto é apenas possível porque se entende em primeiro lugar a figura central da biomaterialidade, o organismo habitante como um evento arquitectural. Como sempre, os edifícios tornam-se corpos apenas como os corpos se tornam edifícios. Porque olhamos para a arquitectura como corpos genéticos, olhamos para os corpos genéticos como arquitectura[XIV].

Esta conversão é também uma de entre novos e confusos eixos de interioridade e exterioridade. Como imaginamos sistemas construtivos, baseados nos termos e nas tecnologias com que entendemos os nossos próprios corpos, como expressões do código genético, e como também imaginamos os nossos corpos como expressões de critérios estético-arquitectónicos, verifica-se uma espécie de canibalização simbólica. O corpo come o espaço, assim como o espaço come o corpo. Este circuito omnívoro será cada vez mais intenso, como nos vamos apercebendo, por razões práticas e afectivas, na arquitectura que se poderá literalmente comer.

Sistemas espaciais genómicos: a aplicação de biomateriais na construção do ambiente (arquitectura como o resultado do design genómico).
Com a aplicação na concepção de habitats físicos (e a re-conceptualização do corpo material, agora como uma entidade arquitectónica configurável) de material genético artificialmente produzido, a arquitectura recombinante faz literalmente desaparecer os hiatos entre corpo e arquitectura e assinala a emergência de habitats genómicos artificial/artifactual. Uma crescente biblioteca de biomateriais estruturais, tessituras genéticas e genomicamente concebidas, medidos em nanómetros e quilómetros, são utilizados na medicina, agricultura, para fins militares e até na arte conceptual. A arquitectura recombinante activa estes meios arquitecturais, com a finalidade de os tornar habitats humanos duráveis.

A premissa da arquitectura recombinante não é apenas os biomateriais artificiais substituírem os materiais tradicionais na formação de programas, espaços e formas tradicionais (caixa, quarto, abrigo, casa). Não se satisfaz com cadeiras biomórficas, ou mesmo cadeiras fabricadas com materiais genomicamente concebidos. A premissa é antes fazer explodir a máquina-de-sentar em novos corpos de narrativa espacial, novos modos de circuitos-habitats, novas questões e não apenas novas perguntas. Esta redefinição de programa "de fora do ADN " irá indubitavelmente resultar em várias formas reconhecíveis. Edifícios como corpos e o vocabulário da "pele" serão mais pronunciados. Os edifícios, como os corpos, têm orifícios e as materialidades da interiorização/exteriorização deverão igualmente tornar-se mais pronunciadas, mesmo como convenções de corpos-programáticos baseados neles (cozinha/sanitário, por exemplo) sofrem mutações para além do reconhecível.

A lenta concepção material de tecidos artificiais é uma prática de longe mais avançada do que muitos leitores da comunidade de arquitectos podem pensar. O alcance e precisão com que estruturas biomateriais podem ser produzidas em laboratório, é espantoso. Em breve, os porcos poderão voar[XV].

O Tissue Culture Project fez asas para porcos. Guy Ben-Ary, Ionat Zurr and Oron Catts são artistas genéticos na University of Western Australia em Perth. No ano 2000 retiraram células estaminais do cordão umbilical de um porco e cultivaram-nas dentro de uma rede de biopolímeros. Tal como uma hera que cresce numa gelosia, as células dos porcos cultivadas multiplicaram-se e cresceram ao longo desta estrutura de biopolímeros, a que foi dada a forma de uma pequena asa. As asas de porco serão animadas (ou sacudidas) por tecido muscular oriundo de ratos. A continuação do Tissue Culture Project será fazer crescer um bife num prato a partir de células retiradas de uma ovelha viva. Pretendem comer o bife na proximidade do animal dador. Bem-vindos à cruelty-free meat[XVI].

Se a carne de mamíferos pode ser concebida, desenhada e construída com este nível de precisão, antevemos que aquilo que pode ser fabricado com a dimensão de 5cm por 5cm, pode ser conseguido amanhã com a dimensão de 50cm por 50 cm e depois com 1m por 1m, e até mesmo 100m por 100m. Testemunhamos o dramático início do percurso da carne como estrutura arquitectónica, na qual a matéria corporal interage com sistemas estruturais para criar intrincadas formas materiais.

Mas o Tissue Culture Project ainda não usou todos os seus trunfos. Makoto Asashima, do Institute of Medical Technology da Universidade de Tóquio, lidera a equipa que cultiva olhos de rã. Estes são cultivados a partir de células estaminais e implantados em rãs bebés cegas, permitindo-lhes ver. As implantadas rãs bebés transformam-se em rãs adultas que conseguem ver com os olhos artificialmente produzidos[XVII].

Nexia Biotechnologies, no Quebeque, injectou gene de aranha numa cabra, de nome Willow. O leite da Willow será processado para a proteína poder ser utilizada no fabrico de seda. A seda denominada Biosteel é muito mais resistente que o aço, e suporta aproximadamente 21 Kg/cm2. É também 25% mais leve do que os polímeros sintéticos à base de petróleo. Outra vantagem da seda de aranha é ser compatível com o corpo humano. "A seda Biosteel pode ser usada para o fabrico de tendões artificiais, ligamentos e membros mais fortes e duros. O novo material pode também ser utilizado na reparação de tecidos, cicatrização de feridas e para suturas biodegradáveis super finas, utilizadas na cirurgia ocular e na neurocirurgia." Nexia prevê a produção de grandes quantidades de Biosteel. O material pode ser usado para suturas microscópicas de grande resistência ou para revestimento de aviões, ou ainda no fabrico de vestuário à prova de bala. Biosteel pode igualmente ser utilizada como um material arquitectónico[XVIII].

Projectos como este enriquecem a máquina arquitectónica através da fusão de material genético de diferentes espécies. Este sistema transgénico enquadra os vastos territórios de meios recombinantes na paisagem genética de múltiplas espécies. Até mesmo as incorporações orgânicas e inorgânicas são mutuamente constitutivas, por dentro e através dos estriamentos transversais evolutivos. Máquinas orgânicas e inorgânicas, phyla orgânica e mecânica, são já formas coordenadas em constituição mutuamente coordenada.
Assim, a xenotransplantação deve ser entendida não apenas como trangénica (entre genes) mas também trans-phylic (entre phylum). Arquitectura reflexiva manifesta-se a partir da incorporação contínua de códigos genético-mecânicos destes múltiplos animais-máquinas[XIX].

Um passo no sentido da compreensão da incorporação como meio arquitectónico é compreendê-la como uma realização orgânica.
Em Janeiro, cientistas da Kinki University cerca de Osaka, anunciaram ter inserido genes de espinafres num porco. Através da inserção do gene FAD2 num óvulo fertilizado de um porco, que posteriormente foi inserido no útero de um porco, os cientistas conseguiram converter cerca de 1/5 dos ácidos gordos em ácidos linoleicos mais saudáveis. A principal vantagem destes porcos, agora transformados em puros porcos-máquinas, é que são alimentos mais saudáveis. A fusão dos códigos animais e vegetais permite a produção de "materiais" combinatórios radicais, que possam ser comidos, habitados, ou ambos[XX].

Simulações genómicas e sustentabilidade instrumental: bioética da multiplicação e da singularização.
As implicações sociais, culturais e éticas destas questões, levantadas pelo uso de materiais orgânicos vivos, humanos ou mamíferos, como um meio arquitectónico, são extraordinariamente complexas. Esta arquitectura literalmente orgânica pode ser benigna, como a casa vegetal de Paul Laffoley, ou tenebrosa como o abat-jour de pele humana de Buchenwald[XXI].

Mas o risco de perigo pode dissuadir-nos de activar as tecnologias genómicas e realizar intervenções arquitectónicas potencialmente cruciais. A visão de uma arquitectura verdadeiramente sustentável prolonga a responsabilidade do designer, ao nível da materialidade genética e molecular. Assim sendo, a arquitectura como a organização deliberada da matéria em formas duráveis, tem de considerar a sua perspectiva como responsável por qualquer opção possível pelas ecologias de produção-como-consumo ou consumo-como-produção. Guiados por este princípio, William McDonough e Michael Braungart, explicam como os produtos podem ser desenhados desde o início, para que passado o seu tempo de vida útil, possam ser alimento para qualquer outra coisa nova. Podem ser concebidos como "nutrientes biológicos" que facilmente reentram na água ou no solo sem depositar toxinas e materiais sintéticos, ou que possam ser nutrientes que circulam continuamente como materiais puros e valiosos, dentro do círculo fechado dos ciclos industriais, em vez de serem reciclados em materiais de nível e uso inferior[XXII].

Simultaneamente à lógica utópica desta visão, é igualmente perigosa a tecnologização da expressão biológica, uma redução no sentido Heidegueriano, do material (animal, vegetal, mineral) não apenas em matrizes e ciclos de retenção genético-quimicos, mas em algo artificialmente disponível para o que podemos designar por "atitude pós-natural", uma redução utilitária da "generosidade do ser", num instrumento de invenção recombinante[XXIII]. Um dos focos da centralização da arquitectura recombinante no corpo, coloca em primeiro plano o desejo tanto como um mecanismo, como um certificado de qualidade de bom design. Será a arquitectura resultante da erradicação sustentável das despesas do material/simbólico, mais viva, ou apenas mais racional? Depois de Heidegger, Paul Rabinow caracteriza este potencial tardio como algo que tornará todo o mundo como um recurso, uma fonte. Mas a irredutibilidade do afecto, produz finalmente uma redução instrumental, sem dúvida bem intencionada, como no caso de McDonough e Braungart, sempre incompleta, sempre a necessitar de futuros alibis para contornar a excessividade da expressão funcional[XXIV].

Anthony Vidler caracteriza o espaço contemporâneo como um estranhamento pós-existencialista, uma inabilidade para estar em casa. O habitante, agora um cyborg sombrio circula de um deslocamento inquietante para outro. Na visão de Vidler, não um, mas vários desarranjos do corpo e do espaço, caracterizam a condição moderna e pós-moderna. É uma questão aberta, se as hiper-integrações recombinanates do corpo-como-estrutura em estrutura-como-corpo são o sinal de uma nova intradependência entre edifício e habitante, originando reintegrações tranformativas do ser e do espaço, terapêuticas ou amorais, ou de algum modo, ambas[XXV]. Podemos encontrar-nos em habitats recombinantes, simultaneamente mais semelhantes e correspondentes aos nossos corpos sensíveis, mais intimamente incorporados na nossa presença biológica, e também inteiramente irreconhecíveis para nós como arquitectura, abandonados como casas. Como os critérios programáticos são recalibrados de acordo com as suas profundas formas genético-corporais (cozinha como zona de interiorização, quarto de banho como zona de exteriorização, etc.) rompimentos estruturais são inevitáveis. Não mais casas, escritórios, cadeiras, quartos de banho. Em vez disso, impossíveis máquinas espaço/forma que distribuem estes "usos" através de múltiplas superfícies monstruosas, orifícios membranas, redes de circulação e desintoxicação; algumas dentro de nós, outras fora, algumas nascem connosco, outras integramos.

Quando a arquitectura se torna genómica, o circuito ecológico entre sistema imunitário humano e o sistema imunitário de um edifício, é de primordial importância. A noção do síndroma do edifício doente origina inimagináveis ramificações éticas. Comer ou não comer a nossa arquitectura, é algo que será interiorizado ao nível micrológico, como o são as viroses, bactérias, doenças de organismos complexos, com os quais temos proximidade. Quando o edifício adoece, adocemos também? É esta a inquietação hipermoderna, segundo Vidler, ou por oposição, uma re-ligação radical com o espaço no seu nível mais fundamental? E se a nossa arquitectura é um outro corpo sensível, com o qual e no qual nós vivemos, passamos os nossos momentos mais íntimos, nos ligamos da forma mais íntima; que tipos de desejo erótico são inevitáveis para os nossos habitats? Iremos nós ter relações sexuais com a nossa arquitectura, e se não, para que é que ela serve?, Será a nossa arquitectura sexualmente reprodutível, connosco ou por si só[XXVI]? Quais as variáveis que poderão pressionar a nossa arquitectura para se mover em direcção estratégias partenogénicas[XXVII]?

As integrações de recombinantes, nano-tecnologias e tecnologias computacionais perversas em híbridos digitais, mecânicos e biotecnológicos, altera radicalmente a nossa percepção do corpo, família, colectivo, espaço, cidade, região e meio ambiente. Como um momento de desfragmentação, esta modernidade tecno-genomica é per se acerca de muito mais do que apenas arquitectura. Estas integrações e desintegrações reabrem o Ocode [XVIII] em formas de experimentação radicais ou monstruosas, que nos deixam sem os adequados sistemas de conhecimento para os julgar e sem capacidade de julgar previamente o nosso inevitável envolvimento.

Há alguns meses atrás, quando um repórter do New York Times me questionou acerca da diferença ética entre design genómico e eugenia, respondi que "os projectos que singularizam os nossos modelos de beleza, são provavelmente maus e os projectos que multiplicam os nossos modelos de beleza são provavelmente bons." O bioartista Adam Zaretsky quer crianças de pele azul e, em última análise, não será isto pior do que querer crianças com olhos azuis [XXIX]?

Notas:

[I] Este ensaio sumariza o programa de pesquisa de um seminário, de que sou professor a decorrer no Verão de 2002, no SCI_Arc, The Southern California Institute of Architecture. São prestados agradecimentos a Karl Chu por ajudar a preparar o terreno para esta invulgar investigação e aos meus alunos, pelo seu apoio e criticas. Agradecimentos também a Ed Keller, Willea Ferris, Barbara Huang, Norman Klein, Adam Eeuwens, Kazys Varnelis, Roger Friedland, Robert Sumrell, Alexi Bourbeau and Autolux, Lev Manovich, Christian Moeller, Miltos Manetas, Richard Metzger, Coco Conn, Jane Metcalfe, Marcos Novak, Silvia Rigon, Jessica D'Elena, Steve from Critical Art Ensemble, Ruth West,
Barbara Kruger, Sean Crowe, Josh Nimoy, Lida Abdullah, Michael  Speaks, Paul Petriunia, Mark Pauline, Bruna Mori, Richard Widick, Eric Owen Moss,
Victoria Vesna, Katharine Wright, e especialmente a Adam Zaretsky pelas conversas que levaram à formulação destas premissas.
[II] Infomática genómica como a nova fase do espelho: a teoria formulada por Lacan acerca da fase do espelho, narra a construção do Eu em relação de desenvolvimento com o seu reflexo, a sua inscrição especifica como auto-resposta óptica. As tecnologias contemporâneas e emergentes de visualização genómica (ecrãs genéticos, cartografia e diferenciação) produzem um eixo de diferenciação do corpo social (um cenário do filme Gattica) mas também a inscrição da própria imagem, que desloca o espelho, como o dispositivo primário info-arquitectural da emergência do ser.
[III] Enquanto o nosso momento contemporâneo, no qual a compreensão do corpo e da matéria está a ser redefinida diante de nós, o que é historicamente específico e radicalmente único, é importante entender que o imaginário recombinante é uma avaliação transversal de profundas e variadas histórias reais e imaginárias, cientificas e mitológicas do corpo biológico, como uma máquina híbrida e Quimérica. Uma das minhas histórias favoritas é a da Árvore-Cordeiro. Cito a descrição do inicio de séc.XVII de Claude Douret, "um Zoophyte, ou planta animal designado no Jeduah hebreu. Era na sua forma como um cordeiro e do seu umbigo crescia um caule ou raiz, através do qual este Zoophyte, ou planta-animal era fixamente unido como uma cabaça ao solo, por baixo da superfície do chão, e de acordo com o cumprimento do seu caule ou raiz, devorava toda a vegetação que podia alcançar. Os caçadores que partiram em busca desta criatura, foram incapazes de a capturar ou de a arrancar, até que conseguiram cortar o caule com flechas ou dardos certeiros, quando o animal se prostrou por terra e morreu. Os seus ossos ao ser postos, com certos cerimoniais e feitiços, na boca de alguém desejoso de prever o futuro, elevavam-no instantaneamente com o dom da adivinhação e com o dom da profecia." (Claude Douret, Historie Admirable des Plantes, 1605)
[IV] Karl Chu, Genetic Space http://www.azw.at/aust/soft_structures/allgemein/genetic.htm
[voltar]
[V] Genótipo: composição genética de um indivíduo. Fenótipo: manifestação de um genótipo. (nota da tradução)
[VI] Karl Chu, The Unconscious Destiny of Capital (Architecture In Vitro/ Machinic In Vivo) in Neil Leach, ed. Designing For the Digital World. Wiley-Academy. West Sussex, 2002. pp. 127-133.
[VII] Ver Mark/Space http://www.euro.net/mark-space/GeneticEngineering.html
Exogénese: - Exogenesis: "genesis from anterior source," "genesis from outer space;" ver http://abob.libs.uga.edu/bobk/ccc/ce120600.html
Ectogénese - Ectogenesis: "genesis outside the womb", "genesis is artificial or exterior
womb architectures" ver http://www.stanford.edu/dept/HPS/ectogenesis/introduction.html
Xenogénese - Xenogenesis: "sexual reproduction with aliens, different species," "the supposed generation of offspring completely and permanently different from
the parent" ver http://www.stanford.edu/dept/HPS/Haraway/CyborgManifesto.html
Alogénese - Allogenesis: "xenogeneis from two species that share ancestors," sexual
reproduction between two gene groups after speciation has divided them."
O estudo de Novak sustenta a diferenciação do domínio do digital da arquitectura puramente molecular como uma especiação genética, a partir da qual a alogénese ocorrerá. Ver http://www.centrifuge.org
[VIII] Ver o artigo de Mark Dery para ArtByte
http://www.artbyte.com/mag/nov_dec_00/lynn_content.shtml e o próximo trabalho de Greg Lynn, Architecture for an Embryologic Housing, Birkhauser Architectural., 2002.
[IX] Citação de Dery:
At 4:15 A.M., it breathed in. It awoke to the faint burning of a flickering blue light in its gullet and a general feeling of indigestion. It rested fitfully, as if it had eaten a bad meal the night before, with the persistent feeling that an agitated animal was living in its gut. The irritation of a muffled grinding sound from within itself continued, until it was inevitable that the day would begin in the dark. Its surface began glowing as electrical impulses crisscrossed its skin. Warm water began coursing through the capillary tubes beneath its surface and its body walls began to radiate heat. The acrid smell of brewing coffee wafted from its pores as its skin began breathing out the previous night's stench. Its iridescent skin shone as the morning's coating of dew formed on its metallic curves. It would be several hours before the sun rose and penetrated its scaly protective skin for the first few hours of the day. Until then, squeaking with the sounds of an awakening digestion system, it would twitch and hum in its earthen nest, warming and activating from the inside out."
[voltar]
[X] Prometeu: herói da mitologia Grega que roubou o fogo para o dar aos homens. Também deu forma aos primeiros humanos a partir do barro. Pausânias descreve as placas que "cheiram como pele humana." Os habitantes, na proximidade do templo, possivelmente dedicado a Prometeu, declaram que as placas aí existentes são as mesmas com que Prometeu moldou os primeiros humanos.
Rabi Loew: de acordo com a lenda Judaica do século XVI, um Rabi constrói o Golem, a partir do barro. No filme Der Golem de 1914, realizado por Paul Weggener, o Golem defende os judeus de Praga de um rei que os pretende expulsar.
Victor Frankenstein: o médico alquimista do inicio do século XIX, imaginado por Mary Shelley, que cria um humanóide a partir da assemblagem eléctrica de partes de cadáveres. A sua tumultuosa relação com a sua obra, animada por sentimentos de medo, inveja, ódio, admiração e raiva mortífera, é em si mesmo, uma metáfora da avareza e arrogância da ciência.
Stan Lee: a mente por detrás dos múltiplos heróis-mutantes da Marvel Comics, incluindo Spider-Man e X-Men.
[XI] Os irmãos médicos Joseph and Charles Vacanti declaram-se autores de várias e espectaculares transplantações de culturas e são (possivelmente) os Beverly e Eliot Mantle da cultura de tecidos. Ver http://www.pbs.org/saf/1107/features/body.htm e também o filme de David Cronenberg, Dead Ringers (1988)
[XII] Parcialmente mágico e também primordialmente sujo, no sentido dado pela antropologia estruturalista; Ver Mary Douglas, Purity and Danger: An Analysis of Concepts of Pollution and Danger, Routledge, New York and
London. 1984.
[XIII] A transexualidade baralha o raciocínio primário e categórico de tal forma, que o próprio poder generativo da "categoria", como tecnologia de conhecimento, é simultaneamente posto em questão e usado em proveito próprio. Analogamente, a entrada que para Foucault "despedaçou todas as marcas familiares do seu pensamento". Podemos usar esta listagem como um novo sistema para categorizar a emergente diferenciação bio-sexual!
No texto El Idioma Analítico de John Wilkins Borges descreve uma cierta enciclopedia china que se titula Emporio celestial de conocimientos benévolos. En sus remotas paginas esta escrito que los animales se dividen en (a) pertenecientes al Emperador, (b) embalsamados, (c) amaestrados , (d) lechones, (e) sirenas, (f) fabulosos, (g) perros sueltos, (h) incluidos en esta calcificación, (i) que se agitan como locos, (j) innumerables, (k) dibujados con un pincel finísimo de pelo de camello, (l) etcétera, (m) que acaban de romper el jarrón, (n) que de lejos parecen moscas. Ver http://sololiteratura.com/borelidioma.htm
[XIV] O eminente momento da lógica do design pós-natural, inspira contribuições extremamente optimistas e pessimistas. Esta clivagem manifesta-se correntemente na batalha dos best-seler da cultura científica popular, do livro (optimista) de Gregory Stock, Redesigning Humans: Our Inevitable Genetic Future - Houghton-Mifflin, New York, 2002, e o (pessimista) Francis Fukuyama, Our Posthuman Future: Consequences of the Biotechnology Revolution - Farrar, Straus & Girpaux, New York, 2002.
[voltar]
[XV] Ted Krueger argumenta de forma semelhante na comunicação Heterotic Architecture apresentada na Roy Ascott's Center for Advanced Inquiry
into the Interactive Arts, Newport, Wales, UK. Em 1998
http://comp.uark.edu/~tkrueger/heterotic/heterotic.html
"This paper argues that an adaptive and responsive architecture may be developed by the incorporation of biological materials in bulk as functioning devices. Techniques of tissue culturing may be used in concert with genetic manipulation to produce functioning biological materials with properties appropriate to architectural media. Hybrid techniques leveraging the capabilities of both organic and inorganic materials will lead to the development of a heterotic architecture. The hybrid develops not through the inorganic augmentation of living material, but vice versa. It is expected that higher-order phenomena such as cognition and consciousness may most readily arise within the hybrid condition."
[XVI] http://www.tca.uwa.edu.au.
Um outro Tissue Culture Project de particular interesse para a arquitectura recombinante é o Oculus Latus. Do site :" We (grow)  tissue culture over three-dimensional miniaturized replicas of technological artifacts. The results were presented in various media such as: Digital prints, video, web site and three-dimensional artifacts. Oculus Latus "tells the story of transformation of existing technology into the unknown realm of a possible future in which living biological matter will seamlessly interact with constructed systems to create the tool of the future - Semi Living Object. This work explores themes of cutting edge technology, new approaches to surgery and the major developments that would dramatically change ideas and perceptions in regard to surgery and health care in particular and human relationship with living biological matter in general." http://www.tca.uwa.edu.au/ol/ol.html
[XVII] Artificial Frog Eyes. Ver o Institute of Medical
Science at the University of Tokyo
http://www.ims.u-tokyo.ac.jp/imswww/index-e.html
ver http://news.bbc.co.uk/hi/english/sci/tech/newsid_591000/591696.stm para a descrição do projecto.
[XVIII] Biosteel. Ver Nexia Biotechnoloiges em
http://www.nexiabiotech.com/
ver http://news.bbc.co.uk/hi/english/sci/tech/newsid_889000/889951.stm para a descrição do projecto.
[XIX] Ver Manuel De Landa, War in the Age of Intelligent Machines, Zone Press and MIT Press, New York and Cambridge, 1991; Bruno Latour, We Have Never Been Modern, Harvard University Press, Cambridge, 1993; Donna Haraway, Modest Witness at Second Millennium; FemaleMan_Meets_OncoMouse: Feminism and Techno science. Routledge. New York and London, 1997. Octavia Butler, Dawn, Warner Books, New York, 1997.
[voltar]
[XX] Ver Kinki University Faculty of Agriculture at http://www.nara.kindai.ac.jp/ehp/
Ver http://news.bbc.co.uk/hi/english/world/asia-pacific/newsid_1780000/1780541.stm para a descrição do projecto.
[XXI] On the vegetable house, ver Paul Laffoley. http://www.disinfo.com/pages/dossier/id231/pg1/
De Ted Kreuger, Heterotic Architecture: "o uso de pele humana produzida artificialmente como material arquitectónico, tem implicações culturais." Esta é uma evidência desde o julgamento dos crimes de Ilse Koch, a matrona do campo nazi de morte de Buchenwald. Em causa está o abat-jour de pele humana. Entre 1954 e 1957, o serial killer Ed Gein de Plainfield no Wisconsin, fabricou um fato completo com pele humana, assim como uma máscara e peitos. Depois da sua prisão pela morte de Bernice Warden, a policia descobriu que a sua casa estava repleta de mobília e bonecos fabricados com corpos humanos, incluindo um abat-jour à la Ilse Koch. A história de Glein inspirou em parte filmes como Psycho, Texas Chainsaw Massacre e The Silence of the Lambs.
[XXII] Retirado da publicidade do seu próximo livro Cradle to Cradle: Remaking the Way We Make Things, North Point Press, 2002
[XXIII] Gail Weiss cartografa esta redução como uma das que apaga a temporalidade, desde o Obody ao organismo à assemblagem genómica. Ver The Durèe of the Techno-Body, Elizabeth Grosz, ed. Becomings; Explorations in Time, Memory, Futures, Cornell University Press, Ithaca, 2000.
O Critical Art Ensamble vê a engenharia genómica como a internalização da Máquina de Guerra. Ver The Flesh Machine: Cyborgs, Designer Babies, and the New Eugenics, Autonomedia, New York, 1998
[voltar]
[XXIV] Ver Brian Massumi, The Autonomy of Affect em Parables For the Virtual: Movement, Affect, Simulation, Duke University Press, Durham, NC. 2002. pp. 23-45.
[XXV] Anthony Vidler, The Architectural Uncanny: Essays in the Modern Unhomely, MIT Press, Cambridge. 1992; e Vidler, Warped Space: Art, Architecture and Anxiety in Modern Culture, MIT Press, Cambridge, 2000.
[XXVI] "Fuckable design" claro que já existe. Ver http://www.goodvibes.com .
Gilles Deleuze and Fèlix Guattari perguntam, "what is the relationship between the bicycle-horn machine and the mother-anus machine?" Anti-Oedipus: Capitalism
and Schizophrenia, traduzido por Brian Massumi, University of Minnesota Press, Minneapolis. 1972 (1983). P.2.
[XXVII] Partenogénese: desenvolvimento de um ser vivo a partir de um óvulo não fecundado. (nota da tradução)
[XXVIII] Ocode: "An assembly language for a stack-based virtual machine used as the intermediate language of the Cambridge BCPL compiler". http://www.wkonline.com (nota da tradução)
[XXIX] Conversa pela noite dentro.
[voltar]

*Benjamin H. Bratton é director de The Culture Industry. Leciona na SCI_Arc (The Southern California Institute of Architecture) e na UCLA. O seu trabalho traça vectores entre a produção e reprodução de espaços de mediação, a antropologia política do software e as arquitecturas carnosas do pós-humanismo.
Pode ser contactado em
bratton at cultureindustry.com


[topo]